Aspecto da avenida de Casa Blanca, onde ao final estava o Hotel de Transito,
no qual Altamira ficou hospedada
Acervo do CD II Guerra APV
DIÁRIO MANUSCRITO
PÁGINA
15
12-8-44- sábado –
Chegamos ao Hotel á 1h00’ da madrugada. Arrumei as bagagens e desci á 1h30’.
Regularisados os papeis na portaria do Hotel tomamos o “ônibus azul e branco”,
oficial ás 2hs’00, seguimos para o aeroporto. Tomamos breakfast. Não
destrocamos os francos por não poder agóra. São 3hs40’, aguardamos a hora da
partida numa sala de espera. Tive oportunidade de ouvir as instruções sobre uma balsa de borracha salva-vidas e da May-West á um
grupo valoroso de americanos que lógo partiu. Os americanos são bem organisados
e pródigos- nada lhes faltam nem aos outros. Tomei o remedio. Ás 4hs45’ partiu
o nosso avião – muitos militares americanos. As colegas todas mortas de sono_
meus ouvidos estalam. Não tenho acomodação. Afinal todas deitamos no chão e
acordei quando me chamaram
PÁGINA
16
para prender
pois íamos descer. Ás 7hs’10 descemos na base aérea (grande) de Oran “Field
Elevaton”. Tomamos café c/ pão. Trouxe a colherzinha de madeira para lembrança.
Ás 8hs00 propriamente levantou o vôo_ Vista perfeita_ Terrenos cultivados com
arte. Muitos aviões de guerra e transporte. Não vi camelos, nem caravanas, nem
beduínos a carater. Ás 8hs20’ já se tem uma bela vista do mar em praias e
terras lavradas porem com pequena vegetação. Ha pequenas vilages e construções
espalhadas porém com simetria. Temos sido recebidas em todas as bases e
conduzidas em autos militares e feito refeições sem demais despesas. Passámos por Argel só pelo alto_Senti não
descer lá. Ás 11hs30’ tomamos um lunch no avião. Ás 12hs00’ (agóra + 1 hora) =
13hs00’ descemos na base de Tunis. Tomaram 1 tody gelado, menos eu que tomei meu remédio. Ás 13h30’ tornamos a
subir. Que pena não vermos a cidade!.. Aqui ha muitos prisioneiros italianos. Ha
muitos militares francezes. São bonitos_ usam o “fês” da côr da farda amarelo
caki. A vista do alto é bela. Tem-se ainda a impressão dos combates. Ha
vestígios. Até aqui 13hs40’, o avião voôo sobre a terra_ agóra sobre o mar – a agua
é escura. Passamos sobre a célebre Ilha de Capri ás 16hs07’. Ha
semelhança em parte com Paquetá. Durante quasi 40’ minutos o avião passou sobre
lavouras, agrupamentos de casas e isoladas tambem. Umas totalmente
PÁGINA
17
destruídas
ou avariadas. O calor mesmo no ar é horrível. Penso que passamos por Napoles.
As 17hs10’ descemos na base aerea de Roma- grande destruição.
Achei
uma bala no sólo e trouxe de lembrança. Ás 17hs55’ o avião levantou voôo para Napoles.
A vista é das mais variadas impressões – Plantações, rio- construções. Ás
18hs55’ chegamos a Napoles. Foi uma surpresa para nós não termos ninguém
nos esperando. Foi um caso sério, até que como sempre os americanos nos forneceu
1 caminhão e chauffer italiano para nos conduzir até ao Hospital Center
Americano. Lucia havia telefonado para Elsa e se entendido. Infelismente só
chegamos ao Hosp. +- umas 22hs00’ quasi mortas de cansaço, com fome e com o
corpo mais maltratado nestas 3 hrs do que toda a viagem. A nossa bagagem também
sofreu lamentavelmente. O chaufeur conseguiu umas brôas pelo caminho e tambem queria
arranjar agua. Berta ia na frente e aceitou o convite de nos levar para ver o Visuvio
(verdadeira loucura!!!...) sem nos consultar. O caminhão rodou toda Napoles
(uma tristeza de imundície, miseria e destruição até que o caminho se tornou
intransitavel, tal a imensidade das lavas que o vulcão vinha vomitando durante
5 mezes. O caminhão tombou de 1 lado e tivemos todas que descer com todo o
cuidado. Acorreram os italianos daquelas proximidades e se dispuseram a ajudar
com alavancas (1 camiseiro) e, empurrando. Foi
um

Lava petrificada do Vulcão Vesúvio
Acervo do CD II Guerra APV
PÁGINA
18
custo!
Já estávamos desesperadas e a escuridão se acentuava. Os italianos fizeram uma
festa com as brasileiras, traziam da fonte agua natural e gelada. Os garotos me
deram pedras (lavas = pome) do vulcão ainda escaldantes.
Finalmente ele conseguiu vencer o trecho_ Voltamos ao caminhão e depois de
muito rodar chegamos, com a graça de Deus_ Elza nos esperava e nos levou á
casa. O major medico Estelita Luis, foi muito
gentil e improvisou uma refeição para nós: suco de tomate_ Patê - Biscoitos _ Geléa_
compóta de pera_ Tudo enlatado. Foi ótimo! Ele é muito bom, se parece com o
Mano Berto só q. tem um belo cavanhaque! Ficámos 4 num só quarto no 45 (residencia
de oficiaes e nurses) (eu – Olga – Nair e Sylvia). As camas são macas de tripé,
sem roupa e sem travesseiro. O banho foi a chuveiro frio (no sub-sólo). Todas
nuas num tablado de madeira. As torneiras altas para mim. Fóra na porta escrito
assim Nurses Only = só para enfermeiras. Sugeira para nós é mato. Graças a Deus
tinha o meu travesseirinho. Nesta noite ainda ficamos conhecendo, o filho do Gel.
Buanerse Tte. Wilson – moreno e pequeno (como o
pae) e o secretário do Supremo Tribunal do Conselho Militar o sr. Tte Jascindo de Iberê Sá
(425 F.E.B) no aposento de Dr Estelita Lins. Caimos nas macas forradas
com as nossas toalhas e dormimos pesadamente. A colega Elza está no 182º
Station 84 Hostpital Ward 402 – Medical Center.
TRECHO DATILOGRAFADO POR ALTAMIRA PÓS GUERRA
12-8-44-Sábado-Casablanca:– Voltamos para o hotel á 1 da madrugada. Não fomos dormir, porque não valia a
pena. Apesar de cansada nem me deitei; não havia tempo. Arrumei a bagagem e
desci á 1h,308. Na portaria não havia despesas a pagar, apenas dei gorjeta ao
garçon árabe: 7 cents=Cr$2,80 (era o que tinha). Tomamos o “ônibus azul e branco”,
oficial ás 2hs,00, seguimos para o aeroporto. Tomamos o breakfast.São 3hs,40’-aguardamos
a hora da partida, numa sala de espera. Tive oportunidade de ouvir as
instruções sobre: uma balsa de borracha salva-vidas, e da may-west, a um
grupo valoroso de americanos, que logo partiu. Eles, são bem organizados e
pródigos- nada lhes falta, nem aos outros. Tomei o remédio. Só ás 4hs,45’,
partiu o nosso avião: muitos militares americanos. As colegas todas mortas de sono.
Meus ouvidos estalam. Não temos acomodações. Afinal todas deitamos no chão e,
só acordei quando me chamaram para me prender, pois íamos descer. Ás 7hs,10’,
descemos na grande base de:
- ORAN-
Algeria –
“ Field
Elevation “
Trouxe a colherzinha de
madeira para lembrança. Às 8hs,00 exatamente levantou o vôo:- vista perfeita-
terrenos cultivados com arte. Muitos aviões de guerra e transporte. Não vi camelos,
nem caravanas, nem beduínos a caráter. Ás 8hs,20’, já se tem uma bela vista do
mar, em praias do Mediterrâneo, e terras
lavradas, porém com pouca vegetação. Ha pequena villages e construções esparsas,
porém, com simetria.
Temos sido bem recebidas em
todas as bases, conduzidas em viatura militares e, feitos refeições sem demais
despesas. (Vide boletim nº47) Welcome!
Passamos
por ARGEL, só pelo alto; senti não descer lá.Ás 17hs,30’ tomamos um
lunch no avião.
Às
12hs,00’ (agora + 1 hora)=13hs,00’, descemos na base de:
-TUNIS-
Tomaram
um toddy gelado, menos eu que tomei meu remédio. Aqui são muitos os
prisioneiros italianos. Ha muitos militares francêses: são bonitos, usam o fês
da cor da farda amarelo-caki. Até aqui 13hs40’, o avião vôou sobre a terra- agora, sobre o mar– a água é escura.(mediterrâneo) Passamos
sobre a célebre Ilha de Capri ás 16hs,07’. Durante quase 40’ o avião
passou sobre lavouras- agrupamentos de casas e isoladas também: umas,
totalmente destruídas; outras, avariadas. O calor mesmo no ar é horrível. Penso
que passamos por Nápoles; não sei porque não descemos?
Às 17hs,10’, descemos na base de:
-ROMA-
Grande
destruição. Achei uma bala no solo e a trouxe de lembrança. Ás 17hs,55’ voltamos
pelo mesmo avião e chegamos ás 18,55’ em:-
- NAPOLES :
ITALY,
(nosso destino), a 12-8-44. Terminou o
turismo de guerra
e
começa a luta.Foi uma surpresa para nós não ter ninguém nos esperando! Um caso
sério! Não sabíamos para onde ir. Lucia, conseguiu falar com Elsa Cansanção e
se entendido com ela. Os americanos providenciaram um caminhão e um italiano
para dirigi-lo. Achei um nickel brasileiro entre a bagagem e o guardei.
Imaginem os leitores, que só chegamos no Hospital,
mais ou menos às 22hs,00, quase mortas de cansaço, com fome e com o corpo mais
maltratado nestas três horas, do que toda a viagem de avião. A nossa bagagem
também sofreu lamentavelmente. O choufeur, conseguiu umas brôas pelo
caminho e também queria arranjar água. Bertha, ia na frente e aceitou o convite
dele, de nos levar para ver o vulcão (Verdadeira loucura!!!), sem nos
consultar. O caminhão rodou toda Nápoles (uma tristeza de imundície, miséria e
destruição), até que o caminho se tornou intransitável, tal a imensidade das
lavas que o Vesúvio, vinha vomitando durante 5 meses. O caminhão tombou
de um lado e, tivemos todas que descer com todo o cuidado. Acorreram os
italianos daquelas proximidades e se dispuseram a ajudar com uma alavanca (que
foi um camiseiro- móvel),retirado dos escombros e
empurrando. Foi um custo; já estávamos desesperadas e a escuridão se acentuava.
As italianas, fizeram uma festa conosco, principalmente com a Nair (segnorina
pio bruna e pio forte!). Traziam da fonte, água natural. os bambinos
(crianças), me deram pedras-pômes, ainda escaldantes; já fazia um mês
que elas foram vomitadas do vulcão! Finalmente eles conseguiram vencer o trecho;
voltamos ao caminhão e, depois de muito rodar, chegamos com a graça de Deus, ao
Hospital center Americano.
Elza estava aflita nos esperando e nos levou ao
Pavilhão 45 (residência dos oficiais e nurses).
O Sr. Major médico brasileiro, Professor, Dr.
Estelita Lins, foi muito gentil; improvisou uma refeição para nós: suco de
tomate, geleia, compota de pera (tudo enlatado). Pediu noticias do Brasil- Eu
tinha conseguido trazer recortes de jornais e deixei-os com ele para lê-los. Em
terra estranha, íamos nos unindo, formando uma família brasileira- era uma
grande alegria. Nesta noite ainda, ficamos conhecendo o 1º. Tenente Luiz Wilson
Marques de Souza (filho do Exmº. General Boanerge Lopes), e o Tenente Garcindo
de Iberê Sá. Ficamos pois conversando, satisfazendo as perguntas deles,
enquanto íamos matando a fome. Já era bem tarde quando procuramos nos acomodar:
Olga, Nair, Sílvia e eu, num quarto. As camas são macas de lona em de tripé,
sem roupa, sem colchão, sem travesseiro.
O banho, foi de chuveiro frio (cousa que não fazia antes), no subsolo; todas
num tablado de madeira- salão único (coletivo), com diversos chuveiros- as
torneiras muito altas para mim. Fora, na porta, escrito assim: “Nurses Only”
- só para enfermeiras. Sujeira para nós é mato. Aos poucos íamos nos adaptando
ás contingências de uma guerra- não se perdia o pudor, ganhava-se o respeito e
discrição, numa vida de campanha coletiva, entre estranhos- procurávamos ser
naturais. – Tinha o meu travesseirinho que trouxera de casa, para a viagem.
Fazia o par com o que meu esposo fora sepultado. Caímos nas macas, forradas com
as nossas toalhas e, dormimos pesadamente..................(Vide foto nº 3)...

Página 15 do diário manuscrito de Altamira
Página 16 do diário manuscrito de Altamira
Página 17 do diário manuscrito de Altamira
INFORMAÇÕES ADICIONAIS:
O manuscrito original do autointitulado “Diário de Guerra” - nome que a própria autora (Altamira) dá ao seu diário, encontra-se sob a guarda permanente do “Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. da FEB Altamira Pereira Valadares” e possui dois volumes de encadernação simples. O primeiro compreende o período de [28/08/1944 com excertos desde o dia 04/08/1944 a 28/04/1945] e o segundo volume, de 29/04/1945 a 22/08/1945. Além dos dois volumes manuscritos, Altamira datilografou o que ela chamou de livro com a sugestão do título ”Febianas”, numa releitura pessoal entre os anos de 1961 a 1970. Foi nesse livro datilografado que a autora inseriu fotos, cartas, desenhos, etc. já com desejo de publicação de seus relatos. Vale ressaltar que entre os diários manuscritos e o livro datilografado há supressão ou acréscimo de impressões e relatos.
Nota do Centro de Documentação: O texto datilografado por Altamira foi transcrito com a atualização da ortografia, mantendo a integridade das palavras e pontuações, mesmo quando aparentemente foram utilizadas de forma equivocada pela autora.
Copyright©1994-2020 Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. Ref, da FEB Altamira Pereira Valadares. Todos os direitos reservados. Todos os textos e imagens são protegidos por direitos autorais e outros direitos de propriedade intelectual pertencentes ao Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. Ref da FEB Altamira Pereira Valadares.
É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo sem a prévia autorização do Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. Ref da FEB Altamira Pereira Valadares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário