quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

10 DE DEZEMBRO DE 1944

 

Dr. Breno e Altamira em visita à família Bacci
Acervo do CD APV

PÁGINA 210

10-12-44-Domingo 32 FHB V.: Brek ás na cama _ Serviço de 16 ás 8 – Cae a neve aos poucos – É belo e sempre melhor q a chuva e a lama – 12hs almoço – Ás 13hs,00 Mára (sobrinha de Pina) veio nos buscar pª ir lá em sua casa – Fomos eu e Dr. Breno – ganhamos a estrada e lógo subimos uma grande ladeira e pedras (a esquerda) e lá chegamos _ Seu esposo alinhado _ Vimos instrumentos

 

PÁGINA 211

cirurgicos mas não agradaram a ele por ser de especialidade e O.R.L. e O. Pina nos ofereceu 1 bom café. Deu-me 1 extrato em pó (ótimo perfume) e 1 vidro gde de Agua Colonia – Fiquei tão contente! Estou com sorte: graças a Deus _ Levei a calça de Neuza pª talhare _ Dr. Breno examinou a nona (cardíaca) e eu vi a outra que me fez as soquetes ótimas de lã e esta fazendo agóra pª Jura _ A vista é maravilhosa – Vê-se  a neve nos montes – a coluna de fumo e Porreta isolando a vista dos tedescos q. estão nos montes visinhos das estradas aliadas. Tambem vi as galinhas q. estão engordando pª o Natal o qual fomos convidados. Às 16hs,30 jantar. Ás 17,50 +- começou a chegar feridos: 3 brasileiros, 1 italiano e 1 americano (contra ataque alemão). Pelo que vejo vamos varar a noite toda Os brasileiros: Geraldo Elias (preto) e Mario Mar Gilson Vilarino. Operaram o tempo todo trabalhei sem parar até a hora do café pela manha 8hs morta de dôr nos pés e na cabeça. Bela operação _ perfurações de intestino 9 e 1 de estomago e retirada de 1 rim fóra diversos debridamentos _ Tomou 12 frascos de sangue de 500 l.

 


TRECHO DATILOGRAFADO POR ALTAMIRA PÓS GUERRA

10-12-44-Domingo-32 FHB V.: Cai a neve aos poucos. É belo e sempre melhor que a chuva e a lama. Ás 13hs,30 Mara (sobrinha de Pina) veio nos buscar para ir lá em sua casa. Fomos eu e Dr. Breno – ganhamos a estrada Via Pavana e logo subimos uma grande ladeira de pedras (à esquerda) e lá chegamos. Seu esposo (de Pina), Sr. Bruno, alinhado, nos mostrou os instrumentos cirúrgicos (de sua fábrica em Bologna), mas não agradaram ao Dr. Breno, por ser de especialidade e O.R.L. e O.(ouvido- nariz- garganta e olhos). Pina nos ofereceu um bom café. Deu-me um extrato em pó (ótimo perfume) também de outra fábrica em Bologna, ambas destruídas pela guerra, e um vidro de Água Colônia. Fiquei tão contente, estou com sorte: graças à Deus! Levei a calça de Neuza para talhare (colocar nas medidas). Dr. Breno examinou a Nôna, mãe do Sr. Bruno (cardíaca) e eu via a outra velhinha, quem fez as soquetes ótimas de lã e está agora fazendo para Jura.

A vista é maravilhosa – Vê-se a neve nos montes – a coluna de fumo e Porreta, isolando a vista dos tedescos, que estão nos montes vizinhos das estradas aliadas. Tambem vi as galinhas que estão engordando para o Natal, o qual fomos convidados.

Descemos para o jantar.

Às 17,30hs, mais ou menos, começou a chegar feridos: 3 brasileiros, 1 italiano e 1 americano (contra ataque alemão). Pelo que presumo, vamos varar a noite toda trabalhando.

Os feridos brasileiros: Gilson Vilarino? Do 1º R.I., depois de examinado na Sala de Choque, e, tendo recebido os devidos socorros, seguiu para o 16th. Evacuation Hospital, em Pistóia. O soldado Antônio de Albuquerque do 11º R.I. e o civil italiano Giusepe Bazigotti, foram operados primeiro. Nóta: não sei o nome do americano, que foi operado pelo time deles. E o soldado Geraldo Elias (de cor), também do 11º R.I., devido ao seu gravíssimo estado de choque, só operado pela madrugada do dia 12, durando sua intervenção 7 horas, terminando pela manhã. Este caso delicadíssimo, constituiu bela operação, constando de 9 perfurações intestinais e 1 do estomago, além de extração de 1 rim e diversos debridamentos, por corpos estranhos.  Tomou 12 unidades de sangue (Blood), de 500cc. cada frasco. Operaram o tempo todo. Trabalhei sem parar até as 8, hora do café da manhã, deixando tudo preparado em ordem. Morta de dor nos pés e com cefaleia, terminei o plantão.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS: 

O manuscrito original do autointitulado “Diário de Guerra” - nome que a própria autora (Altamira) dá ao seu diário, encontra-se sob a guarda permanente do “Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. da FEB Altamira Pereira Valadares” e possui dois volumes de encadernação simples. O primeiro compreende o período de 28/08/1944 [com excertos desde o dia 04/08/1944] a 28/04/1945 e o segundo volume, de 29/04/1945 a 22/08/1945. 
Além dos dois volumes manuscritos,  Altamira datilografou outro diário que ela chamou de livro com a sugestão do título ”Febianas”, numa releitura pessoal entre os anos de 1961 a 1970. Foi nesse diário datilografado que a autora inseriu fotos, cartas, desenhos, etc. já com desejo de publicação de seus relatos. Vale ressaltar que entre os diários manuscritos e o datilografado há supressão ou acréscimo de impressões e relatos.

Nota do Centro de Documentação: O texto datilografado por Altamira foi transcrito com a atualização da ortografia, mantendo a integridade das palavras e pontuações, mesmo quando aparentemente foram utilizadas de forma equivocada pela autora.

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