domingo, 11 de outubro de 2020

11 DE OUTUBRO DE 1944


Imagem de Florença destruída em 1944


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11-10-44 – 4ª feira – Florence- Quasi 9hs e nada de Breakfast Tocou o telefone avisando descemos – que correria e pena! Depois ageitamos as bagagens com tristeza de voltar ao Hosp. pois agora é q. íamos aproveitar melhor – Saimos apressadas – cada pª 1 lado – so tive tempo de ir ao foto ver os retratos de Olga e Neuza, lá nos confins do mundo, mas perdi o tempo porq.

 


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só estariam na Red Cross as 14hs – Entrei rapidamente na Catedral del Duomo sem me deter e com pena – sai apressada em cima da hora – passei na casa de couros. Susini S. Sacchetti a via 12 Borgognissanti doida de cólica intestino – entrei numa disparada – era la nos fundos depois corredores – escadarias e portoes de ferro e portinholas – quasi que ... não deu tempo! Saí aliviada e encontrei já no caminho Elza cansação e Mª José que já havia chegado _ Deixei os talões dos retratos com elas _  Almocei e subi e desci ás 13hs,30 para partir com grde pezar _ Tomamos 1 drink de despedida no Bar do Hotel _ eu Helena o boy dela _ Guido e John. Tentei escrever um pouco enqto aguardava condução mas a caneta enguiçou e fiquei com os dedos sujos de tinta _ Paguei as contas 3 dias = 3 dollares = 60$000 apenas – 100 liras de gorjetas pª o italiano e Aida_ As outras nurses seguiram em outras conduções e nós as 14,10 tomamos a ambulância – fui na frente com o chauffer americano – Norman Wkitaker muito gentil e vim conversando como podia o meu pobre inglez esfarrapado _ Ele prometeu levar 2 volumes para 2 casas de Florence e trazer as respectivas encomendas quando for lá novamente. Bela viagem de volta – dia de sól e tristeza nos corações – Belas estradas – passando por cidades destruídas – trechos completamente desmoronados – ele não 

 


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sabia me dizer os nomes _ perderam-se as placas _ O rio Arno contorna Florence e vem até Pizza com suas agua lamacentas _ Numa rua pelo caminho vi 1 velhinho curvado de cabeça branca a cavar com tristeza os escombros de sua querida casa, junto a 1 senhora de preto que ia removendo tudo a procura talvez dos seus preciosos entes ou bens perdidos. É uma scena comum aqui e muito chocante. Chegamos ao 38th  bem ás 16hs e pouco (2 hs de viagem – dispostas a voltar na 1ª oportunidade de folga). Nos apresentamos ao major e na portaria – assinamos o livro e viemos para a tenda _ Já haviam feito a mudança de Helena para a nossa tenda (tudo molhado e em desordem) Ela subiu a serra e reagiu convenientemente – até eu me aborreci com Carminha (a importante) Veremos o fim disto tudo com as Leis de Deus. Aguardei o jantar e depois mostrei as compras – visitas na tenda e fui deitar muito tarde a conversar com Carmita _ Helena foi dormir com Elita – Berta serviço da noite _ soube que o 1º e o 11º regimento chegaram hoje – as colegas foram a Livorno espera-los – Boas noticias etc. Eu e Carmita escrevemos 1 longa e confidencial carta pª casa (Nenê) que irá em mãos do Sr. Major Gomes – Deitei e tratei de dormir – muito frio e húmido.

 


TRECHO DATILOGRAFADO POR ALTAMIRA PÓS GUERRA

11-10-44-4ªfeira – Florença e Pisa:-Pela primeira vez consegui dormir de verdade!- quase 9hs,00 e nada de breakfast... Tocou o telefone avisando descêssemos – que correria e pena! Depois ajeitamos as malas com tristeza de voltar ao 38th., pois agora é que íamos aproveitar melhor – Cada uma foi para um lado. Só tive tempo de ir ao foto ver os retratos de Olga e Neuza, lá nos confins do mundo e por cima, só estariam prontos às duas horas, na Red-Cross.- Entrei rapidamente na Catedral Del Duomo, sem me deter.- Passei na casa de couros: “Susini S. Sacchetti”; quando saia, encontrei Elza e Zezé na rua- haviam chegado. Deixei os talões dos retratos com elas.

Almocei- subi e desci para partir, com grande pesar.-Paguei as contas: 3 dias, 3 dollares = 60 cruzeiros apenas! – 100 liras de gorjetas para o italiano e a camareira Aida.-

Tomamos um drink de despedida no Bar em companhia dos oficiais. Enquanto aguardava transporte, tentei escrever, mas a caneta enguiçou - As nurses seguiram em outras conduções e nós duas, às 14hs,10’ tomamos a ambulância. Fui na frente com o chaufer, Norman Wkitaker, muito gentil e vim conversando como podia no meu pobre inglês esfarrapado. Prometeu levar 2 volumes para as casas de Florença e trazer as respectivas encomendas, quando for lá novamente.

Bela viagem de volta – dia de sol e tristezas nos corações – Estradas excelentes, passando por cidades destruídas, trechos completamente desmoronados. Não sabia os nomes porque as placas se perderam. O rio Arno corta Florença de um extremo ao outro e vem até Pisa, com suas agua lamacentas.- Numa rua, pelo caminho, vi um velhinho curvado, de cabeça branca, a cavar com tristeza os escombros de sua querida casa, junto a uma senhora de preto, que ia removendo tudo, a procura talvez dos seus preciosos entes ou bens perdidos. É uma cena comum aqui e muito chocante. Chegamos ao 38th. Evacuation Hospital em Pisa, bem às 16hs,00 e pouco (duas horas de viagem), dispostas a voltar na primeira oportunidade de folga. –Apresentamo-nos ao Sr. Major, assinamos no livro e viemos para a tenda.

Já haviam feito a mudança de Helena (para o canto vazio de Jacyra). Tudo molhado e em desordem. Ela, subiu a serra e reagiu convenientemente – até me aborreci em ver tanta falta de consideração de “X”- há pessoas sem hombridade que agem na sombra e na ausência das vítimas. Veremos o fim disto tudo com as leis de Deus. À noite, Helena foi dormir com Elita. Bertha, serviço da noite. Eu e Carmita, escrevemos uma longa e confidencial carta para casa (Nenê), que irá em mãos do Sr. Major Gomes. Ainda conversamos muito. Soube que o 1º e o 11º regimentos chegaram hoje – as colegas (um grupo), foi à Livorno espera-los. Está muito úmido e frio.


INFORMAÇÕES ADICIONAIS: 

O manuscrito original do autointitulado “Diário de Guerra” - nome que a própria autora (Altamira) dá ao seu diário, encontra-se sob a guarda permanente do “Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. da FEB Altamira Pereira Valadares” e possui dois volumes de encadernação simples. O primeiro compreende o período de 28/08/1944 [com excertos desde o dia 04/08/1944] a 28/04/1945 e o segundo volume, de 29/04/1945 a 22/08/1945. 
Além dos dois volumes manuscritos,  Altamira datilografou outro diário que ela chamou de livro com a sugestão do título ”Febianas”, numa releitura pessoal entre os anos de 1961 a 1970. Foi nesse diário datilografado que a autora inseriu fotos, cartas, desenhos, etc. já com desejo de publicação de seus relatos. Vale ressaltar que entre os diários manuscritos e o datilografado há supressão ou acréscimo de impressões e relatos.

Nota do Centro de Documentação: O texto datilografado por Altamira foi transcrito com a atualização da ortografia, mantendo a integridade das palavras e pontuações, mesmo quando aparentemente foram utilizadas de forma equivocada pela autora.


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