sexta-feira, 23 de outubro de 2020

23 DE OUTUBRO DE 1944

 

Trajeto realizado por Altamira, da sede da Cruz Vermelha (Palácio Borghese) 
até a Catedral Santa Maria del Fiore.

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23-10-44 – 2ª feira: Após breakfast saí ás 8hs +- de Pizza na condução Correio = Mail: Num gip iam na frente: o chauffer – 1 major e 1 capt. americano; eu e toda correspondencia e minha bagagem atraz _ O Cel Wood me disse: go back five o’clock – no rest in hotel  - Finiche! O.K. disse-lhe _ Dia lindo de sól mas frio de matar apezar de bem agasalhada – Cheguei no Hotel Anglo Americano ás 10hs,30 +- e pedi pª guardar minha mala _Nisto soube q. a condução voltaria logo ás 14hs e não me dava tempo – pensei que fosse ás 17hs. O metre do hotel disse q. tinha room pª mim sem trazer descontrôle – Quiz falar no telefone c/ o Cel Wood mas o capitão Felts disse que ficasse tranquila q. ele falaria ás 14hs qdo voltar de algum aborrecimento _ Tirei os embrulhos da mala e mandei por 1 portador do hotel á “Casa Sucini”_ Fui lá e fiquei triste porque ele vendeu a minha bolsa- resolvi ficar então com outra (mas preta) pª não perder a chance e, o estojo de extrato. Depois falei com o Renato, da  “Casa Paoli” –

 


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Dei-lhe o pacote _ Fui até á cidade e voltei _ Ligeira toilete – 12hs,40 almoço – Ás 13hs,00 quarto – desocupado – recebi a chave e o groom subiu com a mala pª o 2º andar _ Room 97 (abatida e cansada – sosinha como sempre) – Tudo direito e todo conforto – Um aposento completo _ Fiz uma ligeira toilete e descí _ As 14hs,20 passei pela casa “Paoli” e escolhi o que queria, ficando o Renato de mandar às 18hs _ Só comprei uma vassourinha de mão _ Segui para a cidade e fui á Americam Red Cross á Via Ghibellina, 110 – cousa suntuosa – maravilhosa – nababesca – indiscriptivel! Corrí tudo ligete – Colhi uniformes e libreto (não tinha nada para comprar ali) – A diretôra me indicou o PX americano na Via Cenatane 46 – No caminho passei pela Chiessa de N.S. Conceição e ganhei 9 estampas Ao sair 1ª pobre me pediu esmola _ No P.X. só encontrei as combinações (1 pª Helena e outra pª a sogra talvez 110 lrs com desconto) _ Não tinha distintivo do 5º A. e dos outros não é permitido vender avulso _ A bela italiana Alba, q. me atendeu foi comigo perto pª vêr si achava a historia da igreja mas não tinha e, me pedíu pª comprar-lhe 1 par de meias escossia bôa em meu nome no P.X. o que fiz (Lrs 54) _ Já 17hs as portas fechando – Saímos juntas a procura da historia; dei-lhe a meia _ Ela me prometeu escreve-la e me mandar amanhã – Pedi-lhe então 1 coleção de postaes – Separei-me dela e vim apressada _ Cheguei às 17hs,45 – Tomei 1 banho banheira quasi frio e lavei a cabeça – Desci pª o jantar 18hs,30 – Só e triste – Tudo

 


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belo e alegre – Nisto o Cel Ministro Protestante Paulo Maddox, veio falar comigo e perguntou si poderia conversar á noite o que aprovei _ Qdo. terminava a refeição, sentou-se um tetente (laboratorio) á minha mesa – conversamos 1 pouco _ Indiquei-lhe a Red Cross _ queria ir comigo mas não fui – prometi sair amanhã depois do almoço _ Depois do jantar subí _ Uma orgia louca nos aposentos do Exº General Clarck (88-89 e 90) ele ocupa 3 rooms creadagem especial e a rigor serve-lhe o lauto jantar _ Ouve-se a risada cristalina e embriagada de alguma jovem e bela que o diverte _ Não se póde entrar (calculo só o q. se passa lá dentro!?) – Qdo já estava pronta pª deitar-me o telefone chamou: era o Cel. Chaplain Paulo para or aos aposentos dele 84 conversar _ Renato não me mandou tudo q. escolhi – vou reclamar _ muito frio – vestí-me  o enorme casaco do padre ministro protestante – fala bem o português – nasceu no Rio – paes americanos: alto- claro – rosado – forte – distinto; faz a visita a toda armada de avião _ Conhece o mundo todo – a vida – a alma – o sofrimento – a alegria: grande experiente. Fez tudo para me distrair – achava-me triste e abatida – deu-me mais 2 distintivos de seu pôsto – mostrei-lhe os postaes do Brasil  - Leu todas as cartas

 




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da mana Aurêa: ficou encantado e já lhe admira – Pensou que levasse o rapaz tambem para conversar, mas eu não lembrava o nome nem o Nº dele! (Que cabeça?!). Deu-me um “safa onça” italiano secret. Escreveu seu nome no meu livro de autografos e eu, o meu numa nota dele repleta de assinaturas do mundo todo _ Não tem vícios – Só tomamos agua e conversamos longamente até 24hs ,00 sem sentir as horas passar _ Fui pª o qto. e deitei-me _ Dormi lógo – tranquila e acordei as 6hs,00 no mesmo lado, sem virar 1 só vez!!!!

 

TRECHO DATILOGRAFADO POR ALTAMIRA PÓS GUERRA

23-10-44–2ªfeira: Pisa-Florença: Mais ou menos às 8 horas, parti, na condução Correio-Mail: Num geep, iam na frente: o chauffer, um major e um capitão americano; eu e toda correspondência e minha mala atrás. O Cel. Wood me disse: “Go back - no rest in hotel, finische”- “O.K.” disse-lhe. Dia lindo de sol mas frio de matar, apesar de bem agasalhada.

Cheguei no hotel Anglo-Amreicano às 10hs,30’ mais ou menos e pedi para guardar minha mala.

- CONFUSÃO -

 Nisto, soube que a condução voltaria logo às 14hs,00 e não me dava tempo, e a minha ordem até 17hs,00?!- O maitre do hotel disse que tinha room para mim sem trazer descontrole. Quiz falar no telefone, com o Sr. Cel. Wood mas o capitão FELTS disse que ficasse tranquila que ele falaria pessoalmente quando voltasse (pelo menos foi o que compreendí). Respirei fundo, mas tenho receio de algum aborrecimento, devido esta confusão do meu pobre inglês. Tirei os embrulhos da mala, e mandei por um portador à Casa “Sucini”. Passei lá e fiquei triste porque ele vendeu a bolsa que havia mandado reservar. Fui até à cidade e voltei para o almoço. Às 13hs,00, quarto desocupado, recebi a chave e o groom subiu com a mala para o 2º andar-Room 97. Abatida, cansada e sosinha como sempre. Tudo direito e todo conforto. Um aposento completo. Fiz uma ligeira toilete e descí para a cidade. Passei pela Casa “Paoli”, escolhi o que queria, ficando o Sr. Renato de mandar às 18hs00.  Fui até à Red-Cross sita à via Ghibellina, 110, ou seja, “An Americam Home in a Florentine Palace”. Que suntuosidade nababesca, que maravilha indescritível! Corri tudo ligete – Colhi uniformes e libreto (não tinha nada para comprar ali).

Histórico:- Palace construído em 1824 para o Príncipe Don Camillo Borghese. Após sua morte e também de sua esposa Pauline Bonaparte (irmã de Napoleão I, Bardi e Sinigaglia transformaram-no em: “Florence Cassino” em 1844. Em 1º-9-44, os membros desse Club, puseram-no à disposição da American Red cross, para recreação dos Officers United States, durante esta guerra.- A diretora me indicou o P.X., na Via Cerratani 46.

No caminho, entrei na Catedrale del Duomo – Santa Maria del Fiore e ganhei 9 estampas de N.S.Conceição.- No P.X., pouco comprei - não tinha o distintivo do 5º Exército e dos outros não é permitido vender avulso. Foi uma bela italiana Alba Ghezzo quem me atendeu e nos tornamos boas amigas. Cerrando as portas, saímos juntas à procura da historia de Florença. Nos separamos e vim apressada, chegando no hotel às 17hs,45’.

Soube então que a ambulância havia me esperado e havia partido pouco antes! Vejam o meu desespero ao compreender que haviam duas conduções, devendo voltar nesta última, muito embora me restaram 2 dias de nôjo! Que fazer? De que vale tudo isso sem tranquilidade? Descí para o jantar, só e triste. Tudo belo e alegre. Nisto o Cel. Ministro protestante, Paulo Maddox veio ao meu encontro e perguntou si poderia conversar à noite comigo, no Salão, o que aprovei. Quando terminava a refeição, sentou-se à minha mesa um tetente (técnico laboratorio) e conversamos um pouco- indiquei-lhe a Red Cross e subí para o quarto, bem próximo aos aposentos do Exmº. Gal.........(americano)onde reina orgia louca. Ele ocupa 3 rooms nº 88-89-90, com criadagem especial e a rigor, serve-lhe o lauto jantar _ Ouve-se a risada cristalina de alguma jovem e bela que o diverte. Não se póde entrar (calculo só o que passa lá dentro!?).Quando já estava pronta para deitar-me, tilintou o telefone: era o Chaplain Maddox. Muito frio, me agasalhei bem e desci para conversar.- Ele, capelão, fala bem o português, pois nasceu no Rio, sendo os pais norte-americanos. Alto, claro, rosado, forte, distinto. Faz a visita a toda armada, de avião! Conhece o mundo todo – a vida – a alma – o sofrimento – a alegria; grande experiente. Fez tudo para me distrair: achava-me triste e abatida. Deu-me mais dois distintivos de seu posto. Mostrei-lhe os postaes do Brasil. Leu todas as cartas maravilhosas da mana Áurea: ficou encantado e já lhe admira. Pensou que levasse o rapaz que ele viu sentado á mesa, para conversar também, mas, eu não lembrava o nome nem o nº dele? (que cabeça?). Deu-me um “Safa-Onça” “Italian Secret”. Escreveu seu nome no meu livro de autógrafos e eu, escreví o meu numa nota dele, repleta de assinaturas do mundo todo. Não tem vícios – só tomamos água e conversamos longamente até meia-noite, sem sentir as horas passar. Fui para o quarto e dormi logo, tranquilamente e, me acordei às 6hs,00, deitada do mesmo lado, sem virar uma só vez!!! Cousa rara!


INFORMAÇÕES ADICIONAIS: 

O manuscrito original do autointitulado “Diário de Guerra” - nome que a própria autora (Altamira) dá ao seu diário, encontra-se sob a guarda permanente do “Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. da FEB Altamira Pereira Valadares” e possui dois volumes de encadernação simples. O primeiro compreende o período de 28/08/1944 [com excertos desde o dia 04/08/1944] a 28/04/1945 e o segundo volume, de 29/04/1945 a 22/08/1945. 
Além dos dois volumes manuscritos,  Altamira datilografou outro diário que ela chamou de livro com a sugestão do título ”Febianas”, numa releitura pessoal entre os anos de 1961 a 1970. Foi nesse diário datilografado que a autora inseriu fotos, cartas, desenhos, etc. já com desejo de publicação de seus relatos. Vale ressaltar que entre os diários manuscritos e o datilografado há supressão ou acréscimo de impressões e relatos.

Nota do Centro de Documentação: O texto datilografado por Altamira foi transcrito com a atualização da ortografia, mantendo a integridade das palavras e pontuações, mesmo quando aparentemente foram utilizadas de forma equivocada pela autora.

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