quinta-feira, 13 de agosto de 2020

13 DE AGOSTO DE 1944

Postal de Sorriento (13/08/1944)
Acervo do Centro de Documentação II Guerra APV

DIÁRIO MANUSCRITO

PÁGINA 18

13-08-44- Domingo (Napoles) Fômos dormir na noite de sábado para domingo à 1,00hs da madrugada, pois estivemos conversando e matando a fome

PÁGINA 19

 com p major Dr. E. Lins __ Ás 6h,30 da manhã, apesar de estar muito cansada desci para o Breakfast sósinha, pois que as outras nem se mexeram. O major providenciou café para elas mas se esqueceu do assucar. Para se ir ao mess =(refeitório reunião) tem-se que andar muito, quase um kilometro, sob um sól ardente e grande calôr. Fui à capela = Churche (para todas as crenças)_ vi o serviço do correio e voltei para o nosso pavilhão 45 – Toda organisação e sistema é identico ao da minha escola padrão Ana Nery. Tive que acordar as colegas para apresentação ao nosso Cel. Sebastião Carvalho. Providenciamos roupas e desci para o almoço ás 12hs,15 _ Sistema americano – refeições genero italiano e em parte americano; muitas saladas e agua melhor, graças à Deus. Tirei o pae da forca. Após o almoço visitamos os brasileiros doentes, mal alojados numa barraca péssima, dentre as tendas dos americanos. Ali o calor é de matar um ser forte qto + um doente e com pneumonia! Eles ficaram muito contentes e nos encheram de perguntas _ as que tinham cigarros brasileiros, deram á eles para matar as saudades. Para sairmos aqui, temos que usar um Brasil  no braço esquerdo, pois o nosso uniforme é simile ao tedêsco =alemão, um verdadeiro erro e perigo. Elza, trata dos brasileiros, apezar de falar bem o inglês (parece não ser estimada e Ignacia, dos americanos (apesar de não falar inglês). Todos a apreciam; está forte. Pouco nos procura, está completamente mudada. Aderiu a um americano. Lógo após, seguimos para Sorrento ou Surriento, em companhia do Mjor Lins pois o Cel. Sebastião Carvalho, nosso superior aqui,


Acervo do Centro de Documentação II Guerra APV

PÁGINA 20

não poude ir _ é muito ocupado _ Elza também foi: Inacia não: ficou tomando conta de todos os doentes. A estrada a principio é dentro da cidade. Casas velhas, italianos pelas ruas, mal vestidos e mal calçados _ Apanham os cigarros do chão. Aqui, até as creanças fumam _ andam sujas, andrajosas, cheias de feridas e de moscas _ é uma tristeza _ vôam sobre nós pedindo cigarros, comida e liras. Depois ganha num longo e belissimo percurso, lembrando a subida da serra de Petrópolis. Em Sorrento ouvimos belas canções e orchestras e só conseguí uma folha de arvore = louro, para lembrança porque agóra não é conveniente se encher de bagagens _ de Sorrento fômos até as “Ruínas de Pompeia”, visitamos ainda a magnifica Basilica de Pompeia; consegui captar a frase que contorna a cúpula principal, penso que está certa: DOMNIS VIAE ET VERITIS IN MF OMNIS ESPES VITAE _ Comprei postaes a 30 lrs e medalhas (a 60 lrs), que foram bentas na hora, para lembranças. Voltâmos ás 20hs,00 – sól se pondo _ dia claro _ Todos nas ruas. Tanta riqueza, suntuosidade e esplendor, em esculturas e arte e beleza no interior da basílica. Na volta viemos pela Via Roma Velha, e fomos ao Hotel Volturno a procura dos amigos de M.C.C. Castro = Carmita, expedicionários do Banco do Brasil _ foram tão amáveis _ lavamos o rôsto, nos retocamos e depois fomos jantar num restaurant clandestino, pois tudo aqui é racionado e proibido __assim mesmo após pancadas secretas a porta

Folha de louro trazida por Altamira 
Acervo do Centro de Documentação II Guerra APV


PÁGINA 21

foi aberta e subimos escadas e + escadas escuras, altas e intermináveis até chegar lá em cima _ graças á Deus comemos uma salada de tomate e alface _ óvos estrelados _ pão e peras e vinhos _ estavamos famintas _ Na volta, como sempre, no escuro _ cidade em blak-aut parcial que começa ás 22hs00 sistematicamente. Já eram 23hs,00 quando levantamos o acampamento e chegamos em casa mortas de cansadas _ Dormimos pesadamente.

 

 TRECHO CORRESPONDENTE DATILOGRAFADO EM TRANSCRIÇÃO POR ALTAMIRA NO PÓS GUERRA

NÁPOLES: 13-8-44- Domingo – Às 6hs,30’, apesar de muita cansada desci sozinha para o café, pois as outras, nem se mexeram .............

O Sr. Major, providenciou café para elas, mas se esqueceu do açúcar. Para se ir ao MESS (refeitório – local reunião), tem-se que andar quase 1 quilometro, sob um sol ardente forte calor. Fui à Church (capela – para todas as crenças) – Ví o serviço de correio (MAIL), voltei para o pavilhão. Toda a organização e sistema é idêntico ao de minha escola. Tive que acordar as colegas para apresentação ao nosso Cel. Sebastião de Carvalho. – Almoço: - sistema americano;  refeições gêneros italianos e em parte americanos; muitas saladas e água melhor. Tirei o pai da fôrca.Não me sinto bem com enlatados nem com cloro. - Visitamos os brasileiros doentes, mal alojados numa péssima barraca, dentre as tendas dos americanos. Dentro, o calor é de matar um ser forte, quanto mais um doente com pneumonia! Eles ficaram muito contentes e nos encheram de perguntas; as que tinham cigarros, deram pata eles para matar as saudades. Elza, está no 182º station, 84th Hospital – 402 Ward (enfermaria), Medical Center.  Ela trata dos brasileiros, apesar de falar bem o inglês (pareceu-me esquisito); e, Ignacia, cuida dos americanos, apesar de não falar inglês. Está forte, completamente mudada, pouco nos procura!

Para sairmos aqui, temos que usar um “Brasil” no braço esquerdo pois o nosso uniforme é parecido com o do tedesco (alemão).. Logo após, seguimos para Sorriento, em companhia do major Dr. E. Lins, pois o Sr. Cel. S. Carvalho, nosso superior aqui, não pôde ir - é muito ocupado. Elza também foi; Ignacia ficou tomando conta de todos os doentes.

Apesar de rigorosa seleção de saúde, não se pode escapar ás doenças; muitas delas discretas, latentes e traiçoeiras, que só depois se revelam as vezes em mudanças bruscas e radicais de vida: tais como: meio ambiente, estado mental, alimentação, clima, etc.; tanto assim que já tínhamos alguns patrícios hospitalizados etc. antes mesmo de entrar em ação.

Prosseguindo: a estrada á princípio é dentro da cidade: casas velhas, italianos pelas ruas, mal vestidos e mal calçados; Apanham os cigarros do chão; até as crianças fumam, andam sujas, andrajosas, cheias de feridas, corizas, moscas, é uma tristeza. Voam sobre nós pedindo: cigarrete, manjare, lire (cigarros, comida, dinheiro lira!). Consequência desta tremenda guerra – Era esta a bela Napoli que eu via! Depois, um longo e belíssimo percurso, lembrando a subida da serra de Petrópolis e Teresópolis.

Como sempre, gemiam os violinos em Sorriento. Passámos até pelas “Ruínas de Pompeia”, danificadas pelos bombardeios e visitamos ainda a riquíssima “Basílica de Pompeia”. Toda de mármore: colunas gigantes cravejadas de pedras preciosas – um tesouro! Consegui captar a frase que contorna a cúpula central; penso que está certa: DOMNIS VIAE ET VERITIS IN ME OMNIS ESPES VITAE.

Por enquanto, convém não aumentar bagagem. Só troquei santinhos e medalhinhas que foram bentas na hora, para eu dar de lembranças. Voltámos pela Via “Roma Antiga” - São 20hs,00, sol se pondo, dia claro! Todos nas ruas. Chegámos no “Hotel Volturno”, a procura dos rapazes do Banco do Brasil, amigos e colegas de Carmita; todos eles muito amáveis. Saímos todos para jantar num restaurante clandestino (pois tudo é racionado e por hora da morte), e ainda proibido. Após pancadas secretas, a porta foi aberta e, subimos: escadas, mais escadas, altas, intermináveis, escuras, até chegar lá em cima; mas, compensou: salada de tomates e alface, ovos estrelados – pão, peras e vinho. Estávamos famintas. Na volta, como sempre no escuro, cidade em “black-aut” parcial que começa às 22hs00, sistematicamente. Já eram 23hs,00, quando levantamos  acampamento e chegamos em casa no alojamento mortas de cansadas _ Dormimos pesadamente...................................

 

Página 18 do Diário Manuscrito por Altamira (volume 1)
Página 19 do Diário manuscrito por Altamira (volume 1)

INFORMAÇÕES ADICIONAIS: 

O manuscrito original do autointitulado “Diário de Guerra” - nome que a própria autora (Altamira) dá ao seu diário, encontra-se sob a guarda permanente do “Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. da FEB Altamira Pereira Valadares” e possui dois volumes de encadernação simples. O primeiro compreende o período de [28/08/1944 com excertos desde o dia 04/08/1944 a 28/04/1945] e o segundo volume, de 29/04/1945 a 22/08/1945. Além dos dois volumes manuscritos,  Altamira datilografou o que ela chamou de livro com a sugestão do título ”Febianas”, numa releitura pessoal entre os anos de 1961 a 1970. Foi nesse livro datilografado que a autora inseriu fotos, cartas, desenhos, etc. já com desejo de publicação de seus relatos. Vale ressaltar que entre os diários manuscritos e o livro datilografado há supressão ou acréscimo de impressões e relatos.

Nota do Centro de Documentação: O texto datilografado por Altamira foi transcrito com a atualização da ortografia, mantendo a integridade das palavras e pontuações, mesmo quando aparentemente foram utilizadas de forma equivocada pela autora.


Copyright©1994-2020 Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. Ref, da FEB Altamira Pereira Valadares. Todos os direitos reservados. Todos os textos e imagens são protegidos por direitos autorais e outros direitos de propriedade intelectual pertencentes ao Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. Ref da FEB Altamira Pereira Valadares. 

É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo sem a prévia autorização do Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. Ref da FEB Altamira Pereira Valadares.

Nenhum comentário:

Postar um comentário