domingo, 16 de agosto de 2020

16 DE AGOSTO DE 1944

Via Appia - Nápoles/Roma


DIÁRIO MANUSCRITO

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16-8-44 – 4ª feira – 5º Grupo partiu nesta data Heloisa C. Villar. Ás 6hs,00 levantei-me. Ás 7hs,15 café – 8hs,00 esperar condução para Roma mas, chegou a hora do almoço e nada de partir – nós de macacão o tempo todo – Estivemos na Cantina – umas colegas compraram lembranças. O major Lins sempre conosco comprou melancia, pessegos etc. Perguntei a 1 italiano onde era a Privada e ele me ensinou errado _ fui parar numa repleta de homens americanos calmamente desafogando as suas necessidades. Tivemos ordem de vestir mudar os pijamas para o almoço (dinner) e qdo estavamos chegando no 45 Room nova ordem para descer lógo. Foi uma correria almoçamos e tóca a esperar os gips, na tenda dos brasileiros. Finalmente só as 15,30 foi que partimos. Eu, Olga, Nair e um americano no gips atráz Lucia, Paul e um chauffer americano, na frente. As outras Sil. Car. Berta foram no caminhão com a condição de trocarmos no meio da viagem porém isto não se deu porque elas se sentiram bem lá e não quizeram – Lógo após partida paramos em 1 local de americanos – tomámos agua gelada – Olga não estava bem – fui buscar o embornal dela lá no caminhão. Perdemos 1 bom tempo

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neste local. Qual não foi nossa surpresa e aborrecimento qdo vimos nossas bagagens totalmente amassadas sob o colosso das dos americanos que superlotaram o caminhão – disto é que elas gostaram – Estradas belíssimas _ Via APPIA – ANZIO – 9hs de viagem até Roma porque se parava muito e o chauffer errava sempre o caminho qdo escureceu _ mais adiante paramos num desvio e fomos fazer as nossas necessidades atraz de 1 casa de italianos. Quiz o meu embornal e por isto muito me aborreci porque a Bertha me chamou de isterica (instigada, creio eu, pela Sylvia) não são nada colegas, camaradas e conscienciosas – fiquei por conta e sentida porq. tinha muitos americanos e brasileiros que ouviram _ falei com Paul dono da condução q. por sinal não era a nossa, pois tomamos erradate pensando q. era, e ele fez descer todo o mundo e toda a bagagem _ lá, no fim estava o meu embornal _ Voltei para o gip. Continuamos a viagem _ Por toda a parte se via escrito em letras garrafaes a palavra VINCERE = VINGANÇA – O americano que vinha atraz conosco controlava pelo mapa o nosso trajecto _ Eu trazia comigo o expediente e correspondencia para o nosso Cel. Marques Porto _ Anzio – parte destruída _estradas bellas como sempre _ ha zonas pantanosas _ febre. Finalmente chegamos a Roma ás 24 hs mortas de cansadas e sem jantar _ Faltava pouco para chegarmos dificilte ao nosso destino, mas não

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era possível – a condução não era nossa e Paul (Pôl) não tinha nada que ver conosco – Contudo foi muito gentil (porque se simpatisou com Lucia e tbem  por que é feito deles americanos). O comandante da séde na Vila Marina – Radio S. Paulo (maior difusora da Italia fêz tudo para nos acomodar _ Queria que fossemos para um hotel e jantar _ mas prefirimos ficar aqui mesmo. Então, foi tal de subir e descer escada de 1 para outro pavilhão para lavar o rosto ou tomar o banho (conforme o gôsto de cada uma), eu só tomei banho de gato e fiz .... Voltei para o outro pavilhão escuro (black-aut) e dissemos que dormiriamos no chão – Estendi minha toalha de banho – coloquei o meu travesseirinho com a fronha côr de rosa e deixei a japona para me cobrir. Por fim arranjaram 2 colchões de solteiro e 1 maca. Eu, Nair e Olga juntamos os dois e nos revezamos qdo  a Bertha sem mais nem menos caiu pesadate  entre nós sem dar a menor confiança. Olhamo-nos e só. (Quando chegamos a Vila apezar o escuro conseguimos ver a destruição tremenda e fazer uma pequena ideia do q. se passou por ahi. Disseram-me q. só num dia choveram 5.000 mil bombas aéreas!

 TRECHO DATILOGRAFADO POR ALTAMIRA PÓS GUERRA

16-8-44- 4ª.feira-Nápoles: Prosseguir na viagem- Depois de já termos ido à Roma e voltado à Nápoles de avião, fazer este percurso de Nápoles a Roma, de caminhão (1 hora de avião e 9 horas de trambolhão)! Às 6 horas, todas prontas, de macacão, esperando condução. Chegou a hora do almoço e nada de partir. Enquanto isto, estivemos na Cantina. Na capela, não sei bem si troquei ou ganhei: terço, medalha, e dois volumes de:”My Sunday Missal e May Daily-New Testament”, onde a meu pedido autografou: Chaplain Capt. “Christyler E. Ohara”. quem nos atendeu.

         Perguntei a um italiano onde era o toilete e o danado me ensinou errado: fui parar na “Yvone” dos americanos, onde muitos deles se desafogavam calmamente, todos de cabeça baixa. Graças a Deus! Também, foi só empurrar a porta, arregalar os olhos e sair correndo! Nota: Por discrição, dei este nome e pegou á (sejamos franca), privada, que na guerra é coletiva, porém separada: cada uma para cada sexo. Consiste numa tenda com uma grande fossa geral, contendo diversos assentos com tampas, num enorme caixote em forma de (DESENHO)e, no centro, um dispositivo para papel, etc.

Algumas delas são diferentes e interessantes. Fixado do lado de fora a papeleta: “Nurses Only” ou “Officers Only”. Em todos os acampamentos é a primeira a ser instalada e a última a ser removida, após perfeita desinfecção do local. Os americanos acabaram sabendo do nome e acharam graça.

     Tivemos ordem para vestir os pijamas para o lunch (almoço) e quando estávamos chegando ao 45 Room, nova ordem para descer logo. Foi uma correria- almoçamos e, toca a esperar os jipes, na tenda dos brasileiros. Finalmente só às 15hs,30’, foi que partimos: Olga, Nair, eu e um americano atrás no jipe; Lucia, Paul (oficial americano) e chaufeur, na frente. As Outras foram no caminhão, com a condição de trocarmos no meio da viagem, porém isto não se deu, porque elas se sentiram bem lá e não quiseram. Logo após, paramos num posto militar, tomamos água gelada. Olga não estava bem; fui buscar o embornal dela lá no caminhão. Qual não foi nossa surpresa e aborrecimento quando vimos nossas bagagens totalmente amassadas sob o colosso da dos americanos que superlotaram o caminhão -disto, é que elas gostaram. Perdemos um bom tempo aqui. Estradas belíssimas- Via APPIA-ANZIO, 9 horas de trajeto até Roma, porque se parava muito e o chofer errava sempre o caminho, quando escureceu. Mais adiante parámos num desvio para descansar. Quis meu embornal e por isto me aborreci, (porque a Bertha me chamou de histérica (instigada, creio eu, pela Sílvia); não são nada colegas, nem camaradas, nem conscienciosas.)

Fiquei por conta e sentida, porque tinha muitos americanos e brasileiros, que ouviram. Também me desforrei: falei com Paul, dono da condução, (que por sinal não era a nossa), pois tomamos erradamente pensando que era e, ele fez descer todo o mundo e toda a bagagem; lá, no fim estava o meu embornal. Voltei para o jipe e continuamos a viagem. Acho que o embornal deve acompanhar o seu dono.

     Por tora a parte se via escrito em letras garrafais “VINCERE”.

     O americano que vinha atrás conosco, controlava pelo mapa, o nosso percurso. Eu trazia comigo o expediente e correspondência para nosso Chefe, Cel. Emmanuel Marques Porto.

     Anzio, parte destruída- estradas belas como sempre. Há zonas pantanosas e febres. Passamos por regiões completamente destruídas e, para entrar em Roma, as ruas estreitas estavam obstruídas por escombros. Em certos trechos sentia-se ainda exalar o nauseante cheiro dos mortos soterrados sobre os escombros. Apesar do escuro conseguimos ver a destruição tremenda e fazer uma pequena ideia do que se passou por ali. Disseram-me que num só dia, choveram dos céus, 5.000 bombas aéreas!

     Nesta data, 16-8-44-(Order nº5) – Partiram do Rio as seguintes colegas:- HELOISA CECILIA VILLAR

                    MARIA LUIZA VILLELA HENRY.

    

     Chegamos à:: 16-8-44- ROMA – à meia-noite, mortas de cansadas e sem jantar. Faltava pouco para chegarmos definitivamente ao nosso destino, mas, não era possível- a condução não era a nossa; chegara ao seu porto e Paul, nada tinha que ver conosco. Contudo, foi muito gentil e nos apresentou ao Comandante da Sede na Vila Marina – Radio s. Paulo (a maior difusora da Itália). Este, fez tudo para nos acomodar, altas horas da noite. Queria que fôssemos para um hotel jantar, mas preferimos ficar aqui mesmo. Então, foi um tal de subir e descer às escuras (nós, sem lâmpadas de mão), de um para outro pavilhão, onde tinha água, para lavar o rosto ou tomar o banho (conforme o gosto de cada uma). Eu, só tomei “banho de gato”, e voltei para o outro pavilhão às apalpadelas em pleno black-aut. Dissemos que dormiríamos no chão. Estendi minha toalha de banho, coloquei meu travesseirinho e deixei a japona para me cobrir. Por fim arranjaram dois colchões (de solteiro) e uma maca. Nair, Olga e eu, juntamos os dois e nos revezamos, quando Bertha, sem mais nem menos, caiu pesadamente (como um poste de ferro), entre nós, sem dar a menor confiança. Olhámo-nos e só! Dormimos ..............................


Página 24 do diário manuscrito de Altamira (Volume 1) 
Página 25 do diário manuscrito de Altamira (Volume 1) 

INFORMAÇÕES ADICIONAIS: 

O manuscrito original do autointitulado “Diário de Guerra” - nome que a própria autora (Altamira) dá ao seu diário, encontra-se sob a guarda permanente do “Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. da FEB Altamira Pereira Valadares” e possui dois volumes de encadernação simples. O primeiro compreende o período de [28/08/1944 com excertos desde o dia 04/08/1944 a 28/04/1945] e o segundo volume, de 29/04/1945 a 22/08/1945. Além dos dois volumes manuscritos,  Altamira datilografou o que ela chamou de livro com a sugestão do título ”Febianas”, numa releitura pessoal entre os anos de 1961 a 1970. Foi nesse livro datilografado que a autora inseriu fotos, cartas, desenhos, etc. já com desejo de publicação de seus relatos. Vale ressaltar que entre os diários manuscritos e o livro datilografado há supressão ou acréscimo de impressões e relatos.

Nota do Centro de Documentação: O texto datilografado por Altamira foi transcrito com a atualização da ortografia, mantendo a integridade das palavras e pontuações, mesmo quando aparentemente foram utilizadas de forma equivocada pela autora.


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