terça-feira, 4 de agosto de 2020

4 DE AGOSTO DE 1944


Etiqueta colada na capa do diário

DIÁRIO MANUSCRITO
PÁGINA 01
28-8-44 - 2ª feira (Serviço da noite. 3 hs da madrugada. Apontamentos para desenvolver o meu Diário de Guerra _____________

Ás 4hs,30 da madrugada de 4 de agosto de 1944 levantei-me e Nenê também; fez café enquanto me preparava _ vesti o macacão _ tomei café _ coloquei o embornal a tiracólo e fomos a pé até ao aeroporto _ Nenê muito triste não chegou até lá, teve que voltar, pois era proibido.
Às 6hs,10, eu, Nair Paulo de Mello, Bertha Moraes e Maria do Carmo Corrêa e Castro e demais membros americanos, após pesagem total e censura de cartas, zarpamos do aeroporto da Panair do Rio de Janeiro, com destino oficial de serviço (secret). Bertha, ora faz frivolitê, ora treina inglês. Nair, de tão gorda quasi não coube dentro do cinturão. Carmita = M.C.C. Castro, começou lógo a fumar. A fumaça do cigarro não me fez bem dentro do avião fechado. Tamponei os ouvidos com algodão porque não encontrei na praça uns tampões de borracha. Tomei um comprimido de “Vasano”, foi um estrago pois se desfez na boca porq. não tinha copo com agua.

PÁGINA 02
Os americanos quasi todos se acomodaram para dormir. Eu, bem agasalhada. O avião deslisa suavemente sobre uma camada de nuvem, a princípio tenue e cada vez + densa. A vista ao decolar é maravilhosa. O ruído não é tão forte. A estabilidade é perfeita. Tem-se a impressão de que se está parado. São 7hs,00 – Sinto umas colícas abdominais; vou comer uma maçã. Somos 4 enfermeiras e 13 americanos sendo: 2 pilotos e 2 auxiliares. A ultima noite que passei no Rio foi linda e a manhã maravilhosa. Minha passagem secret 356904 com destino  à Napoles e parada em Natal e 2 registro bagagens nºs 33-08-60 e 33-08-61. Tambem levo uma circular c’ nosso nome (By) para o comando do oficial Major General Wosten com Distribuition: (1) Hg, USAFSA; (1) JBUSME; (2) Ev. O. Ás 11hs,00 descemos na Bahia e ficamos apenas ½ hs, só na base. Eu, me sentindo indisposta e com muito calôr. Só vimos o aeroporto e fizemos toilete. Ás 14hs,30 descemos em Recife e voltamos ás 14hs,55. Ahi já foram descendo os primeiros passageiros. Entrou muita bagagem e novos norte americanos. Ficamos apertadas. Não ha agua para se beber e nem conseguí passar telegrama. Ás 16hs,00 descemos todos com bagagem em Natal. Barraca 405 – Room 5 (eu e Carmita – Bed 1 and 2) Room 4 (Nair e Bertha). Apresentação oficial – contrôle de papéis. Sinto-me mal do ouvido, cabeça, estomago. Passei telegrama para minha mana Aurêa por intermédio de uma serviçal. Banho. Jantar.
Página 01 do Diário Manuscrito de Altamira - volume 01

Página 02 do Diário Manuscrito de Altamira - volume 01


PÁGINA 03

Só tomei chá e torradas (vomitei). Nair e Bertha foram ao cinema da base. Carmita ficou comigo. Continúo mal. A base é linda, é a melhor da A. Sul. As 19hs,00 fomos receber ordens. Dormí, graças á Deus, mas continuo mal do estômago. 

DIÁRIO TRANSCRITO (datilografado pós guerra)


-PARTIDA-
Às 4,hs30’, da madrugada de 4 de Agosto de 1944, levantei-me e a mana também. Enquanto ela preparava o café, me preparava: vesti o macacão de brim verde-oliva. Calcei soquetes escuras e sapatos pretos abotinados, salto médio. Tomei o último cafezinho. Coloquei o embornal a tira-colo e gorro de pala. Dei uma olhada de despedida no meu agradável apartamento em plena cinelandia e, saí.
Para não dar conhecimento a chauffer, resolvi ir à pé – as ruas desertas. Fomos andando até o aeroporto – Nenê, muito triste com a minha partida (era a única que sabia e prometeu guardar segredo), e deveria também, imediatamente seguir para São Paulo, onde se achava Papae. Nos despedimos em silêncio, em meio do caminho, não chegou até lá, teve que voltar, pois era proibido.
Foi feita revisão de documentos, censuras de cartas, pesagem de nós mesmas e da bagagem (inclusive a mala A), que havia vindo diretamente do Q.G. para embarque. Recebi dois talões numerados correspondentes aos dois volumes. Também cada uma recebeu 2 vias da passagem secreta (vide cópia da original anexa) com instruções para só exibir uma, quando solicitada, nas bases aéreas e guardar a outra com cuidado. (Vide documento original).
Levávamos ainda: Carteira de identidade militar,
               Cartão Internacional e
               Ficha de vacinas (2ª via).
Tudo em ordem – Às 6,10’hs. Zarpamos do Rio de Janeiro, Aeroporto Santos Dumont, com destino oficial de serviço secreto em avião transporte norte-americano.
-VIAGEM-
Nair, de tão gorda, quase não coube dentro do cinturão e, isto foi motivo para que os norte-americanos rissem. Bertha, desde que tomou o avião, mudou completamente; daquela carinha sonça e quieta, passou ser brejeira (durante o curso era outra). Agora, não parava. Ora fazia frivolité, ora treinava inglês com os americanos. Eu e Nair nos entreolhamos espantadas e acabamos sorrindo. Maria do Carmo (para nós Carmita), muito calada, começou logo a fumar. Estava sentada junto a ela e, a fumaça do cigarro não me fez bem, dentro do avião fechado. Tamponei os ouvidos. Tomei um comprimido de “Vasano”; foi um estrago, pois se desfez na boca, porque não tinha copo com água.
     Os americanos quase todos se acomodaram para dormir, sentados ou deitados ao longo dos bancos e chão de alumínio, forrados com cobertores. Restam dois pilotos e dois auxiliares; ao todo são treze.
     Eu, bem agasalhada com minha japona de lã.
O avião desliza suavemente sobre uma camada de nuvem, á principio +- tênue e cada ves mais densa. O panorama ao decolar é lindo! O ruído não é tão forte. A estabilidade é perfeita. Tem-se a impressão de que se está parado.
A última noite que passei no Rio foi linda e a manhã maravilhosa.

São 7hs. Sinto umas cólicas abdominais (vasamo); vou comer um maça ...

-BAHIA-

As 11 hs. Descemos na Bahia e ficamos apenas meia hora, só na base, creio que em São Salvador. Eu, me sentindo indisposta e com muito calor. Só vimos o aeroporto e fizemos toilete.

-RECIFE-
Ás 14,30’hs. descemos em Recife e voltamos ás 14,55’, 25 minutos apenas. Ahi já foram desembarcando os primeiros passageiros- Entraram novos americanos e muita bagagem. Ficamos apertadas. Não há água para se beber nem conseguí passar telegrama – prohibido!

INFORMAÇÕES ADICIONAIS: 

O manuscrito original do autointitulado “Diário de Guerra” - nome que a própria autora (Altamira) dá ao seu diário, encontra-se sob a guarda permanente do “Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. da FEB Altamira Pereira Valadares” e possui dois volumes de encadernação simples. O primeiro compreende o período de [28/08/1944 com excertos desde o dia 04/08/1944 a 28/04/1945] e o segundo volume, de 29/04/1945 a 22/08/1945. Além dos dois volumes manuscritos,  Altamira datilografou o que ela chamou de livro com a sugestão do título ”Febianas”, numa releitura pessoal entre os anos de 1961 a 1970. Foi nesse livro datilografado que a autora inseriu fotos, cartas, desenhos, etc. já com desejo de publicação de seus relatos. Vale ressaltar que entre os diários manuscritos e o livro datilografado há supressão ou acréscimo de impressões e relatos.

Nota do Centro de Documentação: O texto datilografado por Altamira foi transcrito com a atualização da ortografia, mantendo a integridade das palavras e pontuações, mesmo quando aparentemente foram utilizadas de forma equivocada pela autora.

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