5 DE AGOSTO DE 1944

Roteiro aéreo realizado por Altamira entre os dias 04 e 05 de agosto de 1944

DIÁRIO MANUSCRITO

PÁGINA 03

5-8-44 Fomos ao café = Breakfast (vomitei). Coronel Yong nos pagou 10$ cada uma as despesas e nos levou ao Hospital. Fui medicada. Deitei-me. Nair ficou comigo. B e C. foram cuidar de nossos interesses. Graças á Deus melhorei com os comprimidos 8640 receita do Capt. médico dr. Sa Vigne.

Ás 12hs,30 conseguí tomar 1 sôpa de legumes com torradas. Continúo deitada, nem arrumei o que é meu. Ás 14hs,00 tomei + 2 cpdos. Não fui ao posto _Nair levou meus papeis, mas não encontrou B., nem C. As hóras aqui têm 1 hora de superioridade (frente meridiano). Mandei um bilhete por Maria Nazareth á Cecilia em Natal, pois estamos na base e não podemos sair. É a celebre base de Parnamirim Dia.

TRECHO REFERENTE AO DIÁRIO TRANSCRITO PÓS GUERRA

-NATAL-

     Ás 16 horas descemos todos com bagagem em Natal, na célebre Base Aérea de Parnamirim, organizada e dirigida pelos americanos. Após apresentação oficial e controle de papeis, fomos designadas para: Building or Barrack (barraca) nº 405 – Room (Quarto), nº4, Bed (Cama) 1 e 2, eu e Carmita. Nair e Bertha noutro quarto.

     Realmente a base é enorme – verdadeira cidade em miniatura – tem todas as dependências – até transportes – inteiramente independente. Fomos então levadas num carrinho de rodas até o local: Off limite-Nurses only”, isto é, só para enfermeiras. Sinto-me mal dos olvidos, da cabeça e estomago. Por intermédio de uma serviçal nortista, que cuidava de nossa barraca e ia de ônibus para a cidade de Natal, consegui passar um telegrama para a mana Aurea.

     Aqui, tem tudo-não falta nada- moveis- roupas- chuveiros- toilettes. Preparei-me para jantar no Mess (refeitório). Pago o ticket( bilhete), na entrada. Ocupo uma das mesas. Ambiente agradável porém extranho; tudo diferente, a não ser os serviçais (garçons nortistas), tudo o mais era americano.

     Apezar de estar em solo pátrio, me sentia no meio estrangeiro. Procurei ir me adaptando, pois daquela hora em diante teria sempre aquele contacto, com seres e cousas desconhecidas, até que voltasse. Começou pela água, que era chlorada desde o momento que deixei o Rio e entrei no avião. Só tomei chá com torradas mas, não parou no estomago.

     Ás 19 hs. fomos receber ordens – Nada. A base é linda, a melhor da América do Sul. Continuo mal e Carmita não saiu, ficou comigo. Anoiteceu...

Nóta: Para ficar mais fácil, chamarei os norte-americanos por americanos

INFORMAÇÕES ADICIONAIS: 

O manuscrito original do autointitulado “Diário de Guerra” - nome que a própria autora (Altamira) dá ao seu diário, encontra-se sob a guarda permanente do “Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. da FEB Altamira Pereira Valadares” e possui dois volumes de encadernação simples. O primeiro compreende o período de [28/08/1944 com excertos desde o dia 04/08/1944 a 28/04/1945] e o segundo volume, de 29/04/1945 a 22/08/1945. Além dos dois volumes manuscritos,  Altamira datilografou o que ela chamou de livro com a sugestão do título ”Febianas”, numa releitura pessoal entre os anos de 1961 a 1970. Foi nesse livro datilografado que a autora inseriu fotos, cartas, desenhos, etc. já com desejo de publicação de seus relatos. Vale ressaltar que entre os diários manuscritos e o livro datilografado há supressão ou acréscimo de impressões e relatos.

Nota do Centro de Documentação: O texto datilografado por Altamira foi transcrito com a atualização da ortografia, mantendo a integridade das palavras e pontuações, mesmo quando aparentemente foram utilizadas de forma equivocada pela autora.

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