segunda-feira, 17 de agosto de 2020

17 DE AGOSTO DE 1944

Página 27 do diário manuscrito de Altamira (Volume 1)

DIÁRIO MANUSCRITO

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17-8-44 – 5ª feira – Roma Afinal dormimos e ás 7hs levantei-me – Breakfast ás 7,30 e lógo tomamos condução (providenciada por Paul) e seguimos a viagem – Via Ostiense – sempre otimas estradas que o Duce se primou (Roma e Italia mesmo goza da maior fama sobre estradas). Ás 11hs,00 +- chegamos no serviço Brasileiro e descemos 1 pouco – Entreguei a correspondencia, par de chinelos de 1 Maj. ao Responsavel do Correio – Capitão Raymundo – Fomos apresentadas ao

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Comandante e depois, continuamos. Chegamos lógo após 1 hora +- em Civita-Vecchia  - Após apresentações ligeiras, lavamos as mãos e rosto fomos lógo para o almoço – Era sempre assim _ chegamos sempre sujas cansadas, sempre em cima das horas de refeições e nunca se tinha socego para cuidar do q. era nosso nem de nós mesmo _ Toda a hora reunião pª isto ou aquilo. – As 13hs,00 apresentação oficial ao maioral medico americano  Cel Dr. G. P. Lawrence (bela figura e fórte) – 13,30 de 18-8-44 para escala - a chief nurse Capitã D. Parsons, A.N.C. – Tomou nóta de tudo e deixou a escala para a sua assistente Tte Jane Tochman nos dar depois. Foi Sylvia quem se entendeu no Inglês Ás 14hs +- apresentação ao nosso supremo comando de Saude Cel Marques Porto (de cabelos quasi brancos – uniforme feio – oculos escuros e porte elegante sempre) Qdo  chegou a minha vez ele disse q. já me conhecia. Fez algumas perguntas sobre a viagem e sobre situação e . sobre Brasil – Entreguei-lhe 3 cartas (1 pª ele e 2 para um outro oficial Sinval). Ficámos todas no primeiro salão junto á sala de entrada. Todos os outros salões repletos de Nurses até os fundos (privadas, pias etc).-Eu- Olg. e N do lado esquerdo – e as outras do outro _ Até q. enfim encontramos as 3 primeiras enfra. nossas (Carmem Bebiano _ Antonieta Ferreira que saiu correndo da enfria pois estava doente, para nos ver e matar as saudades estava nervosa e chorou). Virginia Portocarrero só a noite foi q. chegou. Havia ido à Roma c/ Major Dr. Ernestino Oliveira. Ela está bem _ foi operada de apencicite, em Napoles e muito feliz sucesso.

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Aqui é o 105 Hosp. _ Ás 16hs,00 banho (lá longe) “Nurses Only” _ chuveiros cabines pequenas _ pouca agua _ tudo sem portas internas! Já perdemos o receio de estarmos á vontade – salve-se quem puder! Chuveiros altos não alcanço preciso de 1 caixote_ As 17hs,30 jantar sempre o mesmo sistema americano e os mesmos pratos (me salvo com a Italia). Os americanos servem café em enormes chicaras, cubas ou tijelas é 1 fartura de ralo! Escrevi á mana Aurea. 21hs,00 dormir. Aqui parece bom _ Construções formando 1 pateo amplo onde se ergue o mastro da bandeira americana no centro e todos os dias dá-se as cerimonias = astear e arreiar. Diz-se que é perigoso andar fora dos caminhos indicados devido as constantes explosões de minas deixadas pelos alemães (são mesmo uns bandidos – vão embora _ arrasam tudo – levam tudo e deixam atraz de si belos presentes de gregos!) Um dos nossos brasileiros morreu qdo ia para a praia e um outro está na enfermaria onde foi operado de perfurações diversas pelos estilhaços.

 

Página 28 do diário manuscrito de Altamira (Volume 1)

TRECHO DATILOGRAFADO POR ALTAMIRA PÓS GUERRA

17-8-44–5ªfeira – Roma: Ás 7hs,30, após o café tomamos condução (ainda providenciada pelo distinto oficial Paul(sinto não saber o nome todo) e seguimos a viagem – Via Ostiense – sempre ótimas estradas que o Ducce se esmerou (Itália, graças à ele goza da maior fama sobre estradas).

Aproximadamente às 11hs,00 chegamos no Serviço Brasileiro e descemos um pouco. Entreguei a correspondência e um par de chinelos de um major, ao responsável do Correio, Sr. Capitão Raymundo. Fomos apresentadas ao comandante e depois, continuamos. Ao meio-dia finalmente chegamos ao nosso destino: CEVITA-VECCHIA – (perto de Tarquínia) - Após ligeiras apresentações, lavamos as mãos e rosto, fomos logo para o almoço. Era sempre assim: chegamos sempre sujas, cansadas, em cima das horas de refeições e nunca se tinha sossego para cuidar do que era nosso, nem de nós mesmas. Toda a hora reunião para isto ou aquilo. Ás 13hs,00 apresentação ao comandante médico norte-americano (bela figura) Dr. G. P. LAUWRENCE, Chefe do 105th Station Hospital e ás 14hs ao nosso Comandante do Serviço de Saúde da “F.E.B” Cel. Médico:- Dr. EMMANUEL MARQUES PORTO (cabelos grisalhos, uniforme alinhado mas feio), óculos escuros, porem elegante, delicado, diplomata e psicólogo- Cumprimentou a todas- Quando chegou a minha vês, ele disse que já me conhecia do Curso de 42. Entreguei-lhe 3 cartas (1 para ele e 2 para um outro oficial Sr. Sinval). Fez algumas perguntas sobre a viagem, situação e sobre o Brasil. Durante o transito percebi que alguma das colegas trazia uma ordem oficial do Gal. Do S.S.,no Rio, designando uma colega para chefe. Ele disse que os problemas de além-mar eram bem diversos e o nosso Q.G. não estava ao par, por dificuldades de comunicações urgentes, para um melhor entendimento de modos que ele lamentava muito ás vezes não poder efetuar certas ordens. Seria chefe aquela que se distinguisse no trabalho, conforme o parecer dos norte-americanos. mas contudo obedeceu deixando como intermediaria, visto falar bem inglês, etc. Carmem Bebiano.

Ficamos acomodadas todas, no primeiro salão, junto á sala de entrada. Até que enfim encontramos as 3 primeiras enfermeiras nossas: Carmem, Tony (Ma. Antonieta), que saiu correndo da enfermaria, (pois estava doente para nos ver e matas as saudades; estava nervosa e chorou de comoção. Virginia, só á noite foi que chegou; havia ido á Roma.

No dia seguinte, 18-8-44, ás 13hs,30, fomos apresentadas á chief Nurse: Capitã- DOROTHY PARSONS,-A.N.C.– Tomou nota de tudo e deixou a escala para a sua assistente Tte Jane Tochman, nos dar depois. Sílvia foi quem se entendeu no inglês!(* Acrescentar aqui o seguinte comentário á parte.)

 Aqui é o 105th Station Hospital- onde irei trabalhar pela 1ª vês. Tem escala para banho: dia e hora- ás 16hs,00 Shower(chuveiro), lá longe,-“Nurses Only”- cabinas individuais pequeníssimas- tudo sem portas internas- pouca agua! Já perdemos o receio de estarmos á vontade – salve-se quem puder! Chuveiro alto, não alcanço, preciso de um caixote. Ás 17,00 DINER(jantar): sempre o mesmo sistema americano e os mesmos pratos (me salvo com a Itália). Os americanos servem café, COFFEE, em enormes Xicaras (cubas ou tigelas); é uma fartura de ralo! e toma-se durante toda a refeição.- Parece ser bom o local- Construção formando um pátio onde se ergue no centro o mastro da bandeira FLAG americana e, todos os dias, dá-se a cerimônia de: hastear e arrear, da qual os brasileiros participam, porém a nossa continência é diferente.

Diz-se que é perigoso andar fora dos caminhos indicados, devido as constantes explosões de minas deixadas pelos alemães (são mesmo uns bandidos). Vão recuando mas, arrasando tudo, levando tudo e ainda deixam atrás de si, belos presentes de gregos!. Um dos nossos brasileiros morreu, quando ia para a praia (pisou numa mina) e o outro também atingido, está na enfermaria, após operação de perfurações diversas por estilhaços.


INFORMAÇÕES ADICIONAIS: 

O manuscrito original do autointitulado “Diário de Guerra” - nome que a própria autora (Altamira) dá ao seu diário, encontra-se sob a guarda permanente do “Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. da FEB Altamira Pereira Valadares” e possui dois volumes de encadernação simples. O primeiro compreende o período de [28/08/1944 com excertos desde o dia 04/08/1944 a 28/04/1945] e o segundo volume, de 29/04/1945 a 22/08/1945. Além dos dois volumes manuscritos,  Altamira datilografou o que ela chamou de livro com a sugestão do título ”Febianas”, numa releitura pessoal entre os anos de 1961 a 1970. Foi nesse livro datilografado que a autora inseriu fotos, cartas, desenhos, etc. já com desejo de publicação de seus relatos. Vale ressaltar que entre os diários manuscritos e o livro datilografado há supressão ou acréscimo de impressões e relatos.

Nota do Centro de Documentação: O texto datilografado por Altamira foi transcrito com a atualização da ortografia, mantendo a integridade das palavras e pontuações, mesmo quando aparentemente foram utilizadas de forma equivocada pela autora.

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