domingo, 30 de agosto de 2020

30 DE AGOSTO DE 1944

 

Página 49 do diário manuscrito de Altamira

PÁGINA 49

            30-8-44- 4ª feira – 38th (s. Luce) 1 hora da madrugada _ começou o combate e pela 1ª vez chove e Tenho vontade de beber agua do céo da chuva, pois penso que não tem chloro, mas passou lógo _ aborrecida porque o sargento enf. Bahia quis ter intimidade comigo (horror!). Tratei de dar uma volta e mandei que ele fosse deitar e quando voltei abafada deixou-o dormir até ás 6hs,30. Deixei o serviço ás 7hs,00 – fiz meu B e tentei dormir mas não consegui pois as colegas fizeram

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todo o barulho dentro da tenda, sem a menor consideração. Chegou a hora do almoço 12hs, fui _ Depois marquei roupa (peças uniformes) – assinei (listas e papel de neutralidade. O calôr é de amargar. Sinto mal estar e vontade de gemer. Não tenho agua fresca e nem o banho das 2ªs 4ª e 6ªs feiras – É uma tristeza! Fui ao P.X. da Chief e comprei maquillage por 288 lrs. As 17hs,30 chegaram + 5 colegas: Helena Ramos, Mª José, Neusa Ignacia e Elza. Foi armada a tenda para elas. Helena me deu notícias de Nenê e de Papae (ele mal mediante telegrama antes do dia 9 p. passado) e falou sobre o pagamento lá – bem O.R. Maria José trouxe 300 mil reis para cada 1 de nós 7. As 18hs fui jantar e ás 19hs, entrei em serviço – Entrou + 1 doente=paciente: Lira Nilo = gripe constante. Tudo calmo – Radio tocando na Ward ao lado. Depois veio Major e Faria sgto. – chegou num belo porri, fumando charuto e contando léro _ dizendo que não vae dormir porq. tem chegado muito brasileiros doentes _ Foi divertido _ Virginia fez tudo para leva-lo para a tenda e eu falei com o Bahia para ir atraz. 23hs,00 fui ao Mess _ comi 1 ovo frito, pão café e voltei – Foi o B. depois. Sai do serviço ás 24hs. Dormi bem o resto da noite.

TRECHO DATILOGRAFADO POR ALTAMIRA PÓS GUERRA

12º. GRUPO

 30-8-44- 4ªfeira- S.L.:-Parte do Rio de Janeiro a colega:-

                        SYLVIA PEREIRA MARQUES.

     A 1 hora da madrugada começou o combate e pela primeira vez, chove. Tenho vontade de beber agua do céu, da chuva, pois penso que são Pedro não mandou chloro, mas parou logo...

Estou muito aborrecida com o sargento Bahia. O motivo só eu e ele sabemos e não sei se anotei no meu Diário. Tratei de dar uma volta e deixei que ele dormisse até amanhecer. Às 7hs,00 terminei o pernoite– Tentei dormir mas não consegui, pois as colegas fizeram tanto barulho dentro da tenda.

Assinei listas e papel de neutralidade. O calor é de amargar. Sinto mal estar e vontade de gemer. Não tenho água fresca nem o banho das 2as., 4as. e 6as. Feiras. É uma tristeza! Fui ao P.X. da Chief-Nurse: Capt. Hallie E.Almond-A.M.C., e comprei maquillage por 28 lrs. Aqui, nós temos que nos proteger contra as intempéries a que estamos expostas e contra o chloro que nos cresta a pele, queima o cabelo e, creio que atinge até os dentes.

     As 17hs,30’ chegaram mais 5 colegas:-

              Helena Ramos

              Maria José Aguiar

              Neusa de melo Gonçalves

              Ignacia de Melo Braga (que estava em Nápoles)              e Elza Cansanção Medeiros

     Foi armada a tenda para elas. Helena me deu notícias de Papae (ele mal, mediante telegrama antes do dia 9 p. passado, para a mana). Estou desconfiada que ela não me disse a verdade? Maria José trouxe para cada uma de nós, 300 mil reis; foi bom porque estamos nos aguentando desde a partida, sem vencimentos.

     Às 19hs,00 entrei em serviço. Mais um doente-pacient: Lira Nilo, Com sintomas de gripe constante (sic). Tudo calmo. Radio tocando na ward ao lado. Depois apareceu o sargento Farias num estado deplorável, bebeu demais: fumando charuto, contando léro, dizendo que não vai dormir porque tem chegado muitos brasileiros doentes. Sei porém que a causa disto é a falta de notícias e saudades da esposa, que está esperando bebe. Virginia fez tudo para leva-lo e pedi ao sargento Bahia Renato Soares, para ir atrás e ajuda-la. Foi divertido. Á meia-noite entreguei o serviço. Dormi bem o resto da noite. 


INFORMAÇÕES ADICIONAIS: 

O manuscrito original do autointitulado “Diário de Guerra” - nome que a própria autora (Altamira) dá ao seu diário, encontra-se sob a guarda permanente do “Centro de Documentação da II Guerra Mundial Cap. Enf. da FEB Altamira Pereira Valadares” e possui dois volumes de encadernação simples. O primeiro compreende o período de [28/08/1944 com excertos desde o dia 04/08/1944 a 28/04/1945] e o segundo volume, de 29/04/1945 a 22/08/1945. Além dos dois volumes manuscritos,  Altamira datilografou o que ela chamou de livro com a sugestão do título ”Febianas”, numa releitura pessoal entre os anos de 1961 a 1970. Foi nesse livro datilografado que a autora inseriu fotos, cartas, desenhos, etc. já com desejo de publicação de seus relatos. Vale ressaltar que entre os diários manuscritos e o livro datilografado há supressão ou acréscimo de impressões e relatos.

Nota do Centro de Documentação: O texto datilografado por Altamira foi transcrito com a atualização da ortografia, mantendo a integridade das palavras e pontuações, mesmo quando aparentemente foram utilizadas de forma equivocada pela autora.

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